segunda-feira, 20 de abril de 2009



Chorei talvez por ódio, gostei da sensação quente das lágrimas. Acalmou-me. Estava eu a beira da fúria, ou do desespero, o meu sangue estremecia, a garganta fechava-se e começava a subir-me aos olhos aquela onda pesada de água escura, como que derramada de um caldeirão fervente. Deixava de ver claro e as lágrimas em onda fazem uma barreira que impede o choro, uma nevoa grossa que paralisa o corpo. No limite da sufocacao, as lágrimas comecavam a libertar-se devagar, uma a uma. Gostei de prolongar aquela sensação ate um limite extremo da tontura. Como se caisse em camara lenta sobre espiral da minha tristeza, perdendo todos os meus sentidos, pareceu-me que podia morrer assim, afogada num mar de lágrimas invisiveis, num segredo sem exposição. Mas a vaidade das lágrimas acabou por vencer, brilhando como uma chuva lenta de diamantes sobre o meu rosto. Diamantes de lumes que aqueciam a pele e arrefeciam o espirito, foram essas as minhas joias. As mais preciosas. Devolveram-me a vida. Senti como cada uma delas se formou, senti o esforco que faziam para se separarem da onda espessa de ódio. Dezenas e dezenas de gotas lutando peloú. Foram uma carícia tremula de um dedo de um anjo, que descendo-me até ao pescoco, morrendo em sal nos labios, ou em água no peito, me libertaram e fizeram de mim a MULHER que hoje sou. FORTE, FELIZ, em PAZ.

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